quarta-feira, 20 de julho de 2022

Memorial do negrume, poema RCF


 


 

 

 

O tempo com suas quatro patas de caranguejo

não pode andar para trás e para o lado

como nos sonhos? Os homens e sua imensa

perda de equilíbrio por onde se acercam

ao salitre das chaves moribundas, escondidas da lucidez,

para que não nos envergonhe

de guardar no bolso de lamúrias

a fechadura do inconsciente.

 

Difícil mergulhar no arrecife de coral no meio da insônia.

Os pássaros noturnos

têm hábito de negrume.

Todo monumento

uma estátua em homenagem ao fim.

As cidades são cemitérios

e os monumentos enormes lápides.

 

Visitar os landmarks dos lugares

e trazê-los na retina dos álbuns,

miniatura de vida, um souvenir barato

e que descasca, a remexer-se na penúria

da pequenez quando se alarga

e aumenta a prisão ao ar livre dos náufragos.

Volta o caranguejo do câncer

que decidiu submergir

na lama dos arquivos mortos.





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