De minha janela,
o verde me vê.
Sinto-me constrangido,
porque sou maduro.
Pensa de mim
que sou das espécies sem seiva
e meus galhos são inflexíveis
como um ponto de exclamação.
Não distingue bem
o que é uma máquina
e meu corpo:
acredita que sou
mais um aparelho doméstico.
Tenho o aspirador a ambições,
o ar-condicionado pelas emoções,
o tapete para onde varro
o lixo da memória
e que falo sozinho
como um rádio.
Olha-me sempre sentado
e acredita que
sou como os Budas
que são estátuas
do que Freud chamou
de a felicidade do quietismo.
Que junto letrinhas a ver
se florescem ou murcham.
Não com a seca ou a chuva,
mas a ingênita lavoura da diáspora
que abre o mar morto dos sonhos
na canaã da folha em branco.
O verde que me vê num quadro
se espanta
com a figura imóvel entre móveis que não se movem,
e estranha
uma árvore marrom
ter seu ninho na cabeça
e o respirar dos
bichos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário