A felicidade
é uma liberdade portátil,
de bolso,
vertical e anônima.
É um choque não elétrico,
uma eletricidade
que corrompe as grades,
os fossos de meios-fios,
que abundam nas manhãs.
Nem toda liberdade
traz felicidade,
mas, seu contrário,
um barco que rompe
a correnteza,
o feliz é mais liberto.
Tenho uma maçã nas mãos
e meu único cárcere
é a chuva com suas barras de água.
Tenho uma volúpia
e meu presídio é meu corpo
que não pode ser dois.
Leio um poema de Fernando Pessoa
e as tabacarias e o Estevez desaparecem.
Caminho no parque sem pernas
e todas as árvores me abanam.
Estou liberto
porque sou feliz.
Mas não posso ser feliz
se todos não dançarem
com a mesma orquestra ou banda.
Meu coreto é público
e minha praça é ampla
como um coração alegre.
Meu Deus, não me dê
a felicidade dos simples,
dos sensatos e dos mansos,
que deles será o reino das prisões.
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