Fui ao médico
para medir meu índice de felicidade.
Medi a pressão de trabalho,
tomei contraste para as evanescências,
corri sobre uma plataforma de gente
esquiva
e povo sem eira nem beira
no descaso das misérias alheias,
injetaram-me uma dose intramuscular
de desejos atônitos e desvelos inauditos,
uma mistura severa e irregular
de manias e sevícias de leituras,
deram-me os comprimidos
exaustivos e prolongados das insônias
dispersas que se encapsulam em cada letra,
retiraram-me líquidos exóticos
e humores diversos e divergentes,
aplicaram-me doses supimpas
de líquidos humorais e desatinados,
vasculharam-me o pulmão dos
desvalidos,
a fraqueza dos néscios diante dos dias
obscuros, a tintura das palavras que
sedimentam o álcool do desvario
e o espumante das desavenças,
radiografaram meu espanto e desídia,
a incúria dos dias, a incompatibilidade
das horas e as cinzas dos diálogos,
eletrocefalogramaram minha angústia
existencial, meus nervos agoniados
e destemperados na luta descontínua
de prumo e disciplina das estoicas
manhãs de inverno,
cateterizaram o coração das trevas
e uma floresta densa e árdua de
árvores derruídas e amedrontadas
pela devastação de outros homens,
e, por fim, chegaram à conclusão
de que não podem me diagnosticar,
paciente que sou do hospital
das clinicas poéticas
onde vivo internado há décadas
e sem previsão de alta.
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