quarta-feira, 27 de março de 2024

As calçadas, poema

 


 


 

 

 

 

 

 

 

As calçadas do Leblon

se inclinam,

homens não podem

andar inclinados,

como se estivessem

com a vida inclinada.

Os homens inclinados

não têm prumo

e um homem sem prumo

é um barco ébrio à deriva.

Tenho a inclinação

para ver a vida de viés,

quando o mundo

é mais líquido.

 

Deve ser difícil

andar como Cristo

sobre as ondas

que são calçadas

que se movem,

Cristo devia ter

muito equilíbrio.

Um homem equilibrado

é tudo.

Meu desequilíbrio

é uma calçada

de pedras portuguesas

que me inclinam

na vida pedestre que levo.

 

Ao fim do percurso penso

que poderia ter

dois tamanhos para as pernas,

uma mais curta

para a beira dos edifícios

e outra mais longa

para perto do meio-fio.

Minha vida

é tão desequilibrada,

que também tenho

dois pensamentos:

um mais curto

para as coisas ordinárias

e outro mais longo

para o desequilíbrio do mundo.

 

 

 

 

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