Os ruídos vindos da Colômbia
Lourival Serejo
A literatura
colombiana tornou-se mais conhecida e respeitada depois de Garcia Márquez,
depois dos “Cem anos de solidão”,
precisamente. Arrebatando o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, Garcia Márquez
elevou a literatura latino-americana, a ponto de despertar interesse pelo seu
estudo e conhecimento em todo o mundo. O escritor laureado tornou-se tão
grande, que deixou de ser só da Colômbia para tornar-se um escritor
representativo de toda a América Latina, assim como é atualmente o peruano
Vargas Llosa, outro ganhador do Nobel de Literatura.
A literatura
sul-americana tem a abundância dos fatos reais que distinguem as coisas deste
continente, seja no Uruguai, com Onetti; seja no Chile, com Skármeta e Bolaño;
seja na Argentina, com Ricardo Piglia; ou no Peru, com Vargas Llosa.
Os escritores
colombianos que se seguiram a Garcia Márquez são, de certa forma, seus
discípulos, mesmo que não tenham optado pelo realismo mágico. É o caso de Juan
Gabriel Vásquez, que nos traz uma obra apoiada em fatos reais da vida social e
política daquele país, com o título “O ruído das coisas ao cair” (Objetiva, 2013). Outros escritores
colombianos já estão traduzidos no Brasil, como Santiago Gamboa e Efraim Reys,
este com o irreverente título “Técnicas de masturbação entre Batman e Robin”.
Interessei-me
pela leitura do livro de Juan Gabriel, movido pela curiosidade despertada pelo
título e pelo autor, um nome novo que ainda não conhecia, apesar de ser um
escritor premiado e com o peso de um currículo grandioso. Não me arrependi da
iniciativa, pois fui recompensado com uma leitura satisfatória.
Trata o
romance de Juan Gabriel, vencedor do Prêmio Alfaguara de melhor romance, em
2011, da busca pela história de um amigo de mesa de sinuca, assassinado ao lado
do personagem narrador, Antonio Yammara, numa avenida de Bogotá. A partir da
busca pela vida de Ricardo Laverde, Antonio, professor de direito, atira-se a
unir as pedras de um quebra-cabeça que o faz mergulhar no seu passado,
misturado com a história do seu país, e debater-se com suas angústias
existenciais, “pois ninguém que viva o suficiente pode se surpreender com o
fato de sua biografia ter sido moldada por acontecimentos distantes, por
vontades alheias, com pouca ou nenhuma participação de suas próprias decisões”.
Aproveita-se o
narrador onisciente para explorar suas memórias: a infância, em Bogotá, a
prisão de Pablo Escobar, os protestos estudantis contra a Guerra do Vietnã, a
morte de Kennedy e outros acontecimentos das últimas décadas do século passado,
incluindo as ações contra o narcotráfico. O livro começa com a narração da
morte de um hipopótamo do zoológico de Pablo Escobar. A lembrança do narrador
sobre esse fato decorre da impressão que teve ao visitar, às escondidas dos
seus pais, esse local quando era estudante. O autor mistura ficção e realidade
no enredo do romance, tornando-o mais verossímil.
O ruído que se
encontra no livro de Juan Gabriel é a gravação da queda de um Boeing da American Airlines vindo de
Miami para Bogotá, no momento em que se preparava para pousar no aeroporto de
Cali. Dentre os passageiros mortos, estava a mulher de Ricardo Laverde, Elaine
(ou Elena) Fritts, que vinha para reencontrá-lo, depois de muitos anos ausente,
devido ao tempo em que estava preso. A fita, adquirida por ele, não se sabe
como, continha a gravação da caixa-preta do avião e narrava os últimos momentos
de desespero vividos pelos pilotos. A obsessão de ouvir essa gravação passou de
Ricardo Laverde para sua filha Maya.
Esse fato
ocorreu, na vida real, em 20 de dezembro de 1995. O avião chocou-se com as
montanhas próximas do aeroporto, depois de um desvio equivocado na sua rota de
descida. O apelo dramático dos pilotos, tentando subir a aeronave, quando
perceberam o erro, é o mesmo que intitula o último capítulo do livro: Sobe,
sobe, sobe.
A partir do
segundo capítulo de “Os ruídos das coisas ao cair”, o autor consegue envolver o
leitor na busca das respostas que ele e
a filha de Ricardo Laverde procuram para entender a vida de um homem
desconhecido para ambos e que, pelas circunstâncias da sua morte, deixou a
curiosidade como herança para aqueles que se aventuraram a penetrar no
labirinto de sua vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário