quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Os ruídos das coisas ao cair, Juan Gabriel Vásquez


Os ruídos vindos da Colômbia



                                                                                     Lourival Serejo



A literatura colombiana tornou-se mais conhecida e respeitada depois de Garcia Márquez, depois dos “Cem anos de solidão”, precisamente. Arrebatando o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, Garcia Márquez elevou a literatura latino-americana, a ponto de despertar interesse pelo seu estudo e conhecimento em todo o mundo. O escritor laureado tornou-se tão grande, que deixou de ser só da Colômbia para tornar-se um escritor representativo de toda a América Latina, assim como é atualmente o peruano Vargas Llosa, outro ganhador do Nobel de Literatura.

A literatura sul-americana tem a abundância dos fatos reais que distinguem as coisas deste continente, seja no Uruguai, com Onetti; seja no Chile, com Skármeta e Bolaño; seja na Argentina, com Ricardo Piglia; ou no Peru, com Vargas Llosa.

Os escritores colombianos que se seguiram a Garcia Márquez são, de certa forma, seus discípulos, mesmo que não tenham optado pelo realismo mágico. É o caso de Juan Gabriel Vásquez, que nos traz uma obra apoiada em fatos reais da vida social e política daquele país, com o título “O ruído das coisas ao cair” (Objetiva, 2013). Outros escritores colombianos já estão traduzidos no Brasil, como Santiago Gamboa e Efraim Reys, este com o irreverente título “Técnicas de masturbação entre Batman e Robin”.

Interessei-me pela leitura do livro de Juan Gabriel, movido pela curiosidade despertada pelo título e pelo autor, um nome novo que ainda não conhecia, apesar de ser um escritor premiado e com o peso de um currículo grandioso. Não me arrependi da iniciativa, pois fui recompensado com uma leitura  satisfatória.

Trata o romance de Juan Gabriel, vencedor do Prêmio Alfaguara de melhor romance, em 2011, da busca pela história de um amigo de mesa de sinuca, assassinado ao lado do personagem narrador, Antonio Yammara, numa avenida de Bogotá. A partir da busca pela vida de Ricardo Laverde, Antonio, professor de direito, atira-se a unir as pedras de um quebra-cabeça que o faz mergulhar no seu passado, misturado com a história do seu país, e debater-se com suas angústias existenciais, “pois ninguém que viva o suficiente pode se surpreender com o fato de sua biografia ter sido moldada por acontecimentos distantes, por vontades alheias, com pouca ou nenhuma participação de suas próprias decisões”.

Aproveita-se o narrador onisciente para explorar suas memórias: a infância, em Bogotá, a prisão de Pablo Escobar, os protestos estudantis contra a Guerra do Vietnã, a morte de Kennedy e outros acontecimentos das últimas décadas do século passado, incluindo as ações contra o narcotráfico. O livro começa com a narração da morte de um hipopótamo do zoológico de Pablo Escobar. A lembrança do narrador sobre esse fato decorre da impressão que teve ao visitar, às escondidas dos seus pais, esse local quando era estudante. O autor mistura ficção e realidade no enredo do romance, tornando-o mais verossímil.

O ruído que se encontra no livro de Juan Gabriel é a gravação da queda de um Boeing da American Airlines vindo de Miami para Bogotá, no momento em que se preparava para pousar no aeroporto de Cali. Dentre os passageiros mortos, estava a mulher de Ricardo Laverde, Elaine (ou Elena) Fritts, que vinha para reencontrá-lo, depois de muitos anos ausente, devido ao tempo em que estava preso. A fita, adquirida por ele, não se sabe como, continha a gravação da caixa-preta do avião e narrava os últimos momentos de desespero vividos pelos pilotos. A obsessão de ouvir essa gravação passou de Ricardo Laverde para sua filha Maya.

Esse fato ocorreu, na vida real, em 20 de dezembro de 1995. O avião chocou-se com as montanhas próximas do aeroporto, depois de um desvio equivocado na sua rota de descida. O apelo dramático dos pilotos, tentando subir a aeronave, quando perceberam o erro, é o mesmo que intitula o último capítulo do livro: Sobe, sobe, sobe.

A partir do segundo capítulo de “Os ruídos das coisas ao cair”, o autor consegue envolver o leitor na busca das respostas que ele e  a filha de Ricardo Laverde procuram para entender a vida de um homem desconhecido para ambos e que, pelas circunstâncias da sua morte, deixou a curiosidade como herança para aqueles que se aventuraram a penetrar no labirinto de sua vida.



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