terça-feira, 28 de agosto de 2018

Anna Akhmátova



Anna Akhmátova nasceu a 23 de junho de 1889 em Odessa, então ainda Império Russo, hoje Ucrânia. Com seu primeiro marido, o poeta Nikolai Gumiliov (1886 – 1921), Serguei Gorodetski (1884 – 1967) e ainda Ossip Mandelshtam (1891 - 1938), formou o grupo de vanguarda dos Acmeístas, ligado à tradição do simbolismo russo, em especial à obra de Alexander Blok (1880 - 1921), apenas cerca de uma década mais velho que eles. Anna Akhmátova estreou em livro com Vecher ("Noite"), em 1912, seguido de Chetki ("Rosário") em 1914. O início da Grande Guerra (1914 - 1918), da Revolução Russa (1917) e dos terríveis anos de Guerra Civil (1918 - 1922) põem fim à chamada Era de Prata da Poesia Russa. Alexander Blok adoece e, necessitando de tratamento fora do país, morre a 7 de agosto de 1921 à espera da permissão do governo para viajar, concedida 10 dias depois de sua morte; Nikolai Gumiliov é fuzilado poucos dias depois como contra-revolucionário; Akhmátova e Mandelshtam, considerados poetas "aristocráticos e incompreensíveis para as massas", têm cada vez mais dificuldade de publicar, até que Mandelshtam é preso e condenado a trabalhos forçados no Gulag (mesmo destino de Liev Gumiliov, filho de Akhmátova com o poeta Nikolai Gumiliov), acontecimentos que encontrariam seu memorial em livros de Akhmátova como Anno Domini MCMXXI (1921) e Réquiem, escrito entre 1935 e 1940.

À MUSA

Quando, à noite, espero a tua chegada,
a vida me parece suspensa por um fio.
Que me importam juventude, glória, liberdade,
quando enfim aparece a hóspede querida
trazendo nas mãos a sua rústica flauta?
Ei-la que vem. Soergue o seu véu,
olha para mim atentamente.
E lhe pergunto: "Foste tu quem a Dante
ditou as páginas do Inferno?" E ela: "Sim, fui eu".


Anna Akhmátov

(tradução de Lauro Machado Coelho)

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