terça-feira, 14 de agosto de 2018

À meia-noite, Angélica Torres

 
 
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À MEIA-NOITE
 
Sobrevive-se só
ao mito do ano novo
que reparte o vazio
no brinde ao tempo
antiquíssimo e idêntico.
Sobrevive-se à euforia
dos fogos e dos corpos
nos artifícios noturnos:
a teatralidade da esperança
que já não há   não é
a do século atual.
Sobrevive-se só
ao enterro da hora morta
ante o passo inflamado
desta que chega em andor
e ardor santificada.
Vive-se ao ponteiro bêbado
em seu giro à meia noite:
o retorno à substância da rotina
essa matéria do estorvo habitual.

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