O cavalo,
com seus músculos
de corda,
relincha
ao pardo couro
do pasto queimado.
A melhor cocheira
é o prado
onde a imensidão
limita
com o horizonte.
O cavalo
se apoia nas patas
e
na hipótese
– o olhar gordo do cavalo
averigua o relógio do tempo:
lento é o riacho
rápido o vento.
Eis que volto à fazenda
e em vez de cavalo
encontro um guindaste:
as patas de lagarta e o corpo de ferro.
O animal guindaste suspende
de uma vala o animal cavalo
que nela – vala – caiu.
Suspenso assim
é um bicho fora do seu habitat
não pertence ao gênero da terra
não é marinho,
mínimo,
mas aéreo, cavalo Mobil Oil
como nos letreiros da Texaco Company.
De cabo a raso,
o cavalo é um soldado
na infantaria do seu dono.
Nada comanda,
nem mesmo seu corpo.
Aprendeu na caserna da fazenda
a disciplina, o mando e a marcha.
O freio repuxa o instinto.
O relincho é um guincho
e essa diferença de sentinela
é apenas tristeza do bicho na tropa humana.
O cavalo – matutino – escova suas crinas no pente do vento.
Quem inventou o cavalo – besta de carga –
não foi a natureza e seu lombo
nem mesmo o furor utilitário
a essência nervosa da alma que prova
mas o gosto humano de servir-se do outro.
(do livro Estrangeiro. Rio: SetteLetras, 1997)
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