tens apenas meia hora para inventar o furor
teu jardim é pródigo de ventos
sustos uterinos
enveredas pelo abismo
das desculpas úmidas
tu te recolhes à rotunda do medo
atrás de cada porta se revela
gestos incompletos
na esperança do aperto
de mão que nunca virá
porque nunca foi tentado
enfurnada na cafua
onde tremes
e receias a mudez
nuvens e desastres de colete amarelo
te mostram
que o silêncio está em ti
e não pode ser fracionado
ou diminuído
como o coração
que não se amputa
parca e inexata
avanças pela manhã líquida
as manhãs são sempre femininas
os cachorros
vadeiam o mal estar do mundo
cresce a dívida
que não contraíste
com o agiota
que nem ao menos conheces
buscas então
o esconderijo
mais aviltante
para apaziguar
o desejo dos torpes
e afundar
no madrigal do fim
(Andarilho, 2000)
imagem retirada da internet: solitaryangel
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