A fome se alimenta de gente:
quanto mais mirrado o homem
maior o dente.
Morde a carne pouca
nem lamentar pode
através da voz rouca.
Mais incha o bucho da fome
aquele que nada tem
e abre mão da vida e do nome
nem sabe pra que vem.
Ali vem outro, retirante,
quanto mais cresce diminui,
se estica feito barbante,
tão fino quanto gilete.
É seguro por uma linha
feito marionete.
A fome também vira camponesa:
da foice o corte perverso,
da enxada o revolver da terra.
Não é tema que dê bom verso
embora acerta mais do que erra:
tem o tiro perfeito da garrucha
no passarinho distraído na serra.
É semente vazia
que cresce quanto mais
avança o dia.
(do livro Terratreme, Fundação Cultura de Brasília)
imagem retirada da internet: portinari
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