O algodão floresce no capucho
dos meus dedos, bola de pelo
que se emaranha de branco.
Desse tufo farei outra nuvem,
carregada de nimbos.
O algodão avança minha memória
e quer fazer do quarto
os quartos acolchoados dos loucos,
onde não se pode jogar a cabeça
contra as paredes do tempo,
cobertas de fumo branco.
Comprarei um descaroçador
para tirar o prepúcio da razão.
E minha mão não existirá mais,
tomada toda pela luva branca
os dedos como espinhos
que acusam a brancura do algodão amargo
e a colheita de fetos.
(do livro O difícil exercício das cinzas. Rio: 7Letras, 2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário