terça-feira, 19 de abril de 2022

Fiesta con salsa y sinfonía, poema RCF








Na recepção da Embaixada do Brasil,
estava el maestro Antonio Estévez
sentado en su silla, em Caracas, Venezuela,
porque precisava de pernas de pau
já que suas duas de carne
não lhe davam sustento e batuta.
Não podia caminhar el maestro
y se quedaba sólo sem que ninguém
com ele formasse dueto de conversa e outro som
que não fosse a música que nascia e morria em seus ouvidos.
Antonio, o Villa-Lobos de seu país,
era apenas um compositor sem poder
além de seus concertos.
E o Villa-Lobos venezuelano,
porque no tenia poder,
casi ciego en su vejez
ali ficou escondido do alarido
dos copos e brindes sem harmonia,
preso a sua música, a su silla prisioneira
alheia à noite, à maquiagem dos sorrisos
absorto em sua morte prematura,
segurando sua bengala à frente
como se fosse um leme ou guidão
ou cão espigado à espera que o dono deixasse
la silla y la fiesta e mergulhasse em seu mundo,
a caixa de música que era seu cérebro.

Olhei Antonio Estévez ,
el mago de la música,
y su cuerpo sudaba melodia.
Era meia-noite e a algaravia de chimbos
não deixava que se ouvisse
o som que do corpo partia
como a chama foge do fósforo.
Pensei no poder, na música, na velhice,
na solidão, na bengala e me ocorreu
que um homem passa muitos anos sentado
numa cadeira de cinco patas,
numa festa que o ignora
e só ouve palavras, cego e sem poder,
uma forma de desterro
em que se senta o exilado.



(Memória dos porcos. Rio: 7Letras, 2012)




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