quarta-feira, 20 de abril de 2022

Os ares viciados da fortuna, poema RCF









 




Os ares são vários 
e subsistem à fúria 
dos mandos e, vira e mexe, 
são tornados em mansos 
ou solipcistas, rodam em torno
de si, como loucos que são gira.
Só necessito de outros ares, 
embora desconheça 
onde se encontram, 
pois um ar europeu
tem a mesma densidade e amargura,
a mesma textura desatinada 
e a mania que os ares têm
de uivarem como lobos. 

Os ares viajam mundo, 
desconhecem a fronteira do mal
e nos oprimem com sua dança flamenca.
Todo homem deveria produzir seu próprio 
e devastado redemoinho. 
Os pulmões fracos me inspiram o fim
e a vontade que me expele do mundo.



(do livro Matadouro de vozes. Rio: 7Letras, 2018)




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