No Maranhão, como no Titicaca,
e, dizem, também no México,
há ilhas que frei dos Prazeres
chamou de andantes.
São ilhas desnorteadas,
ilhas sem âncoras.
Vão cansadas de tanto migrar
e nunca chegar a termo,
prontas para invadir o fulcro da surpresa.
As ilhas viajantes são andarilhas de mato,
o desejo submerso de limo,
a busca constante do vício e do único.
Incomodam o homem as ilhas
que vagam além de sua inércia
e, estando um dia aqui,
outro dia acolá, as ilhas flutuantes
lembram-lhes que nem toda terra
é firme, nem toda ilha tem sua localização
exata e que os homens, se não são ilhas,
tampouco têm terra firme
e, flutuantes, andantes e viajantes,
podem dormir num canto de rio pacífico
e acordar na máquina de água
que são as cachoeiras,
trituradoras de homem e terra,
que desabam em si e findam mundo.
(do livro O difícil exercício das cinzas. Rio: 7Letras, 2014)
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