quinta-feira, 19 de junho de 2025

As botas e o pêndulo, poema

 


 

 


 

Uso botas

que de tão pesadas

me aferram mais ao mundo.

Os passos de botas

não são marciais,

mas venusianos

e pisam a calçada dos anos.

Uso botas no frio,

flanam minha desídia em férias.

Quanto mais ando

mais retorno

à minha ortopédica infância.

 

Os pés chatos da asma

e a madrugada

no respiradouro das horas.

Já fui bom andarilho

– quando não tinha dois pés direitos –

e minhas pernas,

ao fim e ao cabo,

não me fincavam

ao peso da cautela.

O pêndulo das pernas

me bota no mundo

com mais gravidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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