sexta-feira, 11 de abril de 2025

Abalo sísmico , poema


 

 


 

 

O centro do mundo me abala.

Se movem dentro de mim

placas tectônicas

de contrastes turbulentos

entre a maciça certeza

e o bloco monolítico

das opiniões equivocadas.

 

A escala Richter do que vivo

abala minhas estruturas.

Fico me perguntando

se tremo nas bases

ou se o mundo é torto

e cospe fogo.

Minhas mãos conhecem

o abalo sísmico do que toco.

Em meio aos tremores,

amor é o meu epicentro.

 

 

 

 

 

 

 

 


quinta-feira, 10 de abril de 2025

Formigável, poema


 

 






 

 

 

Formiga em mim

uma necessidade de saúva.

Corto as folhas da relva

dos meus poemas.

A cabeça grande das ideais tolas

e o sacrifício de carregar

o dobro do meu peso.

A fila indiana

dos meus problemas

cria em mim

a doce ilusão de viver tranquilo.

Em meu formigueiro

há o desânimo animal da espécie:

o amargo encargo da realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 8 de abril de 2025

O fósforo e a exaustão, poema

 








 


 

 

Os fósforos se imolam

consumidos pelo fogo.

Mas para mim

são a imagem da exaustão

que os consomem.

Sinto que um dia

morrerei como um fósforo,

um homem exausto de viver

e consumido

pelo fogo da vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Goya, poema RCF

 




Há um instante

                        entre o desejo de um homem

                        e a fúria de Deus

                        que a luz falsa dos quadros

                        passa a ser única capaz

                                    de iluminar o destino

                                                                       verdadeiro.

 

 

Bruxo torturado

- de cortes e demônios –

tua pintura

                        esconde o rosto

                                    de um deus desfavorecido

e revela

            a natureza dos humores

            e a outa face dos sentidos.

 

 

Em ti habitam a guerra

            - os fuzilamentos do homem - ,

            os inimigos do povo,

            o rosto rude da nobreza.

            Tua alma é

            - apenas –

            delicada,

            uma pincelada

            de gozo

            e

            pavor.

 

 

Tu e tua duquesa de Alba,

            e as nudezes femininas de tua alma,

            tua mudez principesca

e tua Saragoça e ensandecida,

tuas cúpulas de catedral

teus santos perdidos e infernais

tuas Mayas Desnuda e Vestida,

corte de talho rigoroso,

depois teu exílio no traço

            espanhol de tua pintura

            e na geografia de

            refugiado de Bordéus.





(do livro Estrangeiro, 1997, Sette Letras)





sexta-feira, 4 de abril de 2025

Um homem é muito pouco 17





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Ouvia-os falar de body art, de Duchamp, das instalações de Hélio Oiticica e de Lígia Pape e outros e Clemente nunca tinha ouvido falar naqueles nomes, embora se considerasse sujeito informado e que conhecia o mundo e era leitor de livro. Mas aquele universo de artes plásticas ele não dominava e as palavras queimavam, esquentavam-no, logo se tornavam cinzas e o significado delas eram apenas borralho. Clemente percebeu que era o mais velho do grupo, que ficava calado, com o copo de vinho tinto na mão – o velho olfato de Clemente percebia o buquê, mas era falácia associar olfato com paladar –, que ouvia a gargalhada do grupo e via que Yolanda trocava olhares com Toninho Marcos, ela abaixava os olhos com sorriso nos lábios e Clemente percebia que aquela linguagem ele conhecia. Estava embarcado num navio estrangeiro, que falavam língua estrangeira, tinham gestos estrangeiros, risos estrangeiros, olhares estrangeiros. Clemente tinha medo de desembarcar em Bremen. Não queria ficar em Bremen na casa de Juliana. Diabo de profissão que afasta a gente da família. Quando se volta se é quase um estranho. E a mulher não pode ir pra cama com um estranho, tomar café da manhã na cozinha com um estranho, usar o banheiro com um estranho dentro dele. Yolanda tinha bebido demais.

Vamos embora, disse Clemente.

Não, quero ficar mais um pouco, a gente nunca sai e quando sai você quer ir embora logo.

Yolanda tanto riu que deitou a cabeça no ombro de Toninho Marcos. Clemente não teve ciúme. O que sentiu foi enorme solidão. Estava ali solitário. Solidão tão ampla e desprotegida que o fazia desembarcar em cidade que não conhecia, nem tinha porto para desembarcar.

O espírito de Clemente foi ficando fraquinho. O espírito dele precisava de cama, adoentado, débil dos pulmões, as pernas inchadas de tanto dar voltas e voltas com a cabeça dele. O quarto – a gente não deve duvidar dos quartos – estava cheio de ruas, de beijos, de risos, de olhares furtivos. Os olhos mostram a alma. Como a alma não tem braço e não tem pernas, como a alma não tem músculos e não tem quadris, o modo de a alma mostrar descontentamento é pelos olhos que têm seus músculos, pernas, braços, intenções, medidas, carências e outras partes do corpo e do repertório das emoções.
(do livro Um homem é muito pouco. São Paulo: Nankin, 2010)




quinta-feira, 3 de abril de 2025

O mar e o tempo, poema

 



 

 

 

 

Aqui as traineiras

só sabem dos desvios

do pequeno mar do porto

pois se recusam a sonhar o grande oceano.

 

Dos galhos

da árvore do tempo,

penduram-se

culpas inchadas e maduras,

imersas no apodrecimento lento.

 

Ouvem-se os gemidos das portas,

e logo tudo se cala.

A madeira do silêncio

se estende e se oferece.

 

 

 

 

segunda-feira, 31 de março de 2025

Companhia aérea, poema

 


 

 


 

 

Vamos, amor,

faz companhia aérea para mim.

Minha bagagem

pesa a enormidade da prudência.

Devia ter sido

mais descauteloso.

Encher a mala

com roupas que não vesti

e jogar fora o vestuário do tino.

Decolaríamos na pista

dos nossos desvelos.

E se houvesse escala

que fosse em sol maior.

Nossos voos

têm de ter o mesmo destino.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 29 de março de 2025

Não tem jeito, poema

 


 


 

 

 

 

Pensei em ser mais simples

– simples como estou sendo agora –

e que mais simples

podia supor Deus

e que, no efêmero,

estaria a aposta do divino.

 

Tranquei então as metáforas

que suam suas facas de dois gumes

e evitei os desvios

que são esquinas das palavras

para me mostrar

mais cordato com o dia.

 

Quis ser solar

como uma laranja

e exibir os dentes

na maciez das frutas maduras,

mas descobri, não tem jeito,

que sou turvo

como os rios

que se enroscam

e noturno como uma nota musical

numa sala vazia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 25 de março de 2025

Um homem é muito pouco 7





E bem, ali estavam os três, Clemente, Yolanda e Aninha para fazer visita a Juliana. Clemente ficou impressionado com a casa. Não pelo luxo que não havia, Juliana era intelectual e não cuidava muito da casa. Havia livros e papéis por todos os cantos e os móveis pareciam estar fora de lugar por alguma razão desconhecida. E além do mais, em todas as partes havia cavalos de pau.

O marido de Juliana não gostava de ser chamado de marceneiro, acreditava que os móveis que fazia, muitos deles desenhados por ele mesmo, eram obra de arte. Copiava modelos ingleses, franceses e italianos, mas também impunha aos fregueses os traços do seu desenho, que poderia nunca chegar a ser grife, mas que lhe dava a paz de realizar trabalho artístico e não meramente mecânico e operário.

Mas a fascinação do marido de Juliana eram os cavalos. Então havia na sala em que foram recebidos cavalos de todos os tamanhos, pequeninos, médios, grandes. Clemente mesmo se sentou numa cadeira que tinha forma de cavalo. Do mesmo modo, Yolanda e Aninha também sentaram em cadeiras-cavalo, enquanto Juliana se estirava numa chaise-long, depois de recolher pratos jogados sobre a mesma, papéis espalhados em cima do sofá como se tivesse sido pega de surpresa e não ter convidados para o chá. Yolanda já estava acostumada com Juliana e com a casa de Juliana. Aninha sempre gostava de ir à casa de Juliana, que lhe parecia enorme casa de brinquedo que, lamentavelmente, só tinha o brinquedo do cavalo.

Quem estava incomodado era Clemente, que não se sentia à vontade sobre uma cadeira que era cavalo ou sobre um cavalo que era cadeira.

O marido de Juliana era um cavalo. Era um cavalo grande. Homem cinza. Todo ele era cinza. E ainda por cima fazia questão de se vestir de cinza. Horácio era o nome dele. Mas Horácio não é nome de cavalo. Horácio deveria ter nascido com o nome de cavalo. Ele levou Clemente para outra sala com pé-direito alto.

Lá havia outros cavalos. Era a “cocheira” de Horácio. Era ali que ele esculpia e guardava os cavalos, principalmente os cavalos maiores. Horácio devia se chamar Homero e tornar verdade a história do cavalo de Troia. Horácio era o único homem que Clemente conheceu que podia ter construído, nos tempos modernos, o cavalo de Troia. Horácio era um homem espichado, magro de tanto cavalgar seus cavalos, alimentando-se pouco e raramente. A cabeça de Horácio cobria-se de cabelos cinza, as crinas de Horácio comportavam o cinza. Horácio colocou Clemente num cavalo grande e ele também sentou num cavalo grande.

A impressão que Clemente reteve foi não que os cavalos fossem grandes, mas que os dois, Horácio e ele, haviam diminuído. Clemente se sentia um pouco criança, mas não se importava de se sentir um pouco criança. Os cavalos enormes, gigantes, de Troia, os cavalos grandes de Horácio eram estilizados, logo não se sentia cavalgando na madeira da oficina de Horácio. Coerente com os cavalos de pau, não havia capim no chão da oficina, ou melhor, o capim também era de madeira.

Os cavalos ficavam distantes um do outro e Horácio falava alto e espichado, falava magro e cinza. Clemente respondia no mesmo tom e altura.

Era uma conversa desencontrada e magra. Dois meninos se balançando em dois balanços numa praça, de vez em quando as vozes e os ouvidos se cruzavam, mas no resto ele falava uma coisa, mas Clemente não escutava, estava no alto, logo Clemente falava outra que ele não escutava, estava lá embaixo e vice-versa ou versa-vice, como o próprio Horácio gostava de dizer. O versa-vice para Horácio era a conversa secundária. Ele perguntou a Clemente o que ele fazia, Clemente lhe disse e ele confessou que gostaria de ter sido marinheiro, que quando criança pensava em entrar para a Marinha, mas depois tomou gosto de cavalos e no mar não havia cavalos e era besteira de chamar de cavalo-marinho o cavalo-marinho que era marinho mas não era cavalo.

Eu joguei todos os meus livros fora, ele gritou.

E por quê?

Os livros, como aconteceu com Dom Quixote, estavam me enlouquecendo. Eu não gosto de enlouquecer, ele completou.

Clemente não disse para ele que também não gostava de enlouquecer, aliás Clemente não conhecia ninguém que gostasse de enterro e de enlouquecer.

Não, Horário não se parecia com Dom Quixote, embora tivesse o rosto também espigado e cabelo com topete que alongava o rosto dele. Horácio era tão magro que Clemente via não somente as veias dos braços como também os feixes mínimos de tendões e músculos que seguram as carnes.

Sabe quanto custa um cavalo desses?, perguntou apontando para os cavalos em que estavam sentados. Quase um carro popular.

Clemente não sabia a razão de Horácio falar aquilo de os cavalos custarem os olhos da cara. Queria se valorizar, é claro. Mostrava seus laivos de artista e de artista plástico com exposição montada e cavalos vendidos. Clemente, não por maldade, e sim por ingenuidade, perguntou se Horário já vendera algum daqueles cavalos.

Alguns, poucos, respondeu com sinceridade Horácio.

Clemente gostou da sinceridade de Horácio. Se fosse homem rico, somente pela sinceridade de Horácio, compraria o cavalo que valia carro popular embora ninguém ainda tivesse pagado o preço de carro popular para um cavalo daqueles.

Você gosta de amêndoas?, perguntou de súbito Horácio, sem que nada que tivessem conversado antes levasse a tal pergunta.

Gosto, gosto de amêndoas. Clemente pensou que Horácio ia lhe oferecer amêndoas. Mas não. Feita a pergunta, se calou.

E um tempo depois disse: As amêndoas são muito boas.

Clemente não havia escutado direito e pediu que ele repetisse. E Horácio disse: As amêndoas são muito boas. Clemente balançou a cabeça afirmativamente. E pensou que talvez não estivesse ali em Botafogo, na casa de Juliana, conversando com o marido cinza dela, sentado num cavalo gigante, e sim que estava no sanatório em Bremen. Horácio explicou que aquele era seu método mnemônico para guardar os nomes das pessoas. De agora em diante, Clemente se chamaria “Clemente, o que gosta de amêndoas”. Ele, Horácio, já provara o método inclusive numa visita que o casal fizera a amigos dela em Santa Tereza. Horácio se prometeu que sairia de lá sabendo o nome de todos os amigos dela. Eram quase vinte pessoas. Horácio foi apresentado a todos e pediu que Juliana ao apresentá-lo lhe dissesse o nome. Na hora de partir, Horácio se despediu um por um pelo nome.

Boa noite, Otávio. Boa noite, dona Marina. Boa noite, seu Cláudio. Boa noite, seu Antonio Carlos. Horácio, ao ser apresentado, juntava o nome do sujeito ou da mulher com algo aleatório, como Otávio com piano, Mariana com fruta-pão e por aí vai.

Ao sair da festa, Horácio estava se despedindo era do piano, da dona fruta-pão, do seu manteiga, da sua graminha, do seu novato, do doutor capacho, de dona língua grande. Horácio não gostava de associar traços físicos com o nome, para ele era o mais fácil de confundir. Nariz grande servia pra um bando de pessoas ali mesmo na festa.

O método que Horácio consagrara – embora não fosse inventado por ele – se estendia aos amigos de Juliana. Se Clemente era o que gostava de amêndoas, Alexandre era o sujeito que gostava de jogar pôquer. Horácio não gostava muito de Alexandre, pensava que ele dava em cima da mulher dele, o que não era de todo descabido.

Juliana era uma mulher muito bonita. O dinheiro do pai de Yolanda podia comprar qualquer miss, por isso não ia gastar tempo e dinheiro com uma secretária que recitava Le dormeur du val, de Rimbaud. Se fosse feia, poderia discorrer sobre toda a literatura francesa, de Rabelais a Flaubert, que não levaria nenhuma bicota na boca murcha.

O pai de Yolanda conhecia o mundo e o mundo era belo. O mundo não era belo para os pobres, mas o que o dinheiro que o pai de Yolanda comprava era belo. Era bela a literatura do pai de Yolanda, eram belas a mulher e a amante do pai de Yolanda, eram belas a casa e as viagens do pai de Yolanda, era bela a casa com piscina em Palmas de Mallorca, era imensa com quadras de tênis e uma cascata natural a mansão do pai no Alto da Boa Vista. Yolanda não conhecia tudo sobre o pai dela. Havia um lado que o dinheiro não comprava e que ele escondia da família.

O pai de Yolanda tinha muito a ver com o capitão Vaz. Não, não, nunca se encontraram e agora que o pai de Yolanda estava morto só se encontrariam na vida eterna, caso os dois acreditassem na vida eterna e, principalmente, se existisse a vida eterna. O pai de Yolanda foi procurado por um empresário paulista do grupo Ultragás e ele pensou que o empresário fosse convidá-lo para o pai de Yolanda fazer parte da companhia que estava de pernas bambas. Mas o negócio que empresário paulista propôs foi ser sócio do Brasil.

O senhor é um patriota, dr. Macedo.

É claro que sou.

Muito bem, venho lhe propor se associar ao Brasil.

Mas o Brasil não tem dono.

É aí que o senhor se engana, disse o empresário paulista. O país é de todos, mas há uma canalha que pensa que o país é deles e que eles vão tomar o Brasil só para eles.

Meu Deus, exclamou com verdadeira surpresa. O pai de Yolanda era o sujeito mais esperto e safado que se conhecia, mas às vezes deixava passar ingenuidade.

Depois dessa conversa no Golden Room do Copacabana Palace, o pai de Yolanda passou a contribuir para armar a repressão contra os comunistas que queriam o Brasil só pra eles. O que jamais o pai de Yolanda ia imaginar é que a amante querida e que ele cuidava como quem cuida da educação de filha na Suíça fosse casar com comunista que militara antes de conhecer a arte de esculpir cavalos.

Mas voltando à questão mnemônica de Horácio, o homem cinza que vinha a ser Horácio – o rosto apresentava-se macilento, viam-se os pomos da face e até mesmo os olhos apresentavam tonalidade cinza como de certos felinos – contou para Clemente que Juliana tinha um amigo chamado Alfredinho e que ele identificava Alfredinho como corretor da Bolsa. Certa vez chegou mesmo a misturar as coisas e perguntar a Alfredinho como iam as ações na Bolsa e que conselhos Alfredinho dava para quem, como ele inexperiente, quisesse se meter a aplicar na Bolsa e foi quando Alfredinho disse que não era corretor da Bolsa e que trabalhava numa imobiliária como corretor, não da Bolsa, mas de imóveis.


segunda-feira, 24 de março de 2025

Calçada ásperas, poema

 

 


 

 

 

As calçadas sentem

a incompletude dos meios-fios.

São ásperas com quem lhes pisam

– e se sabem secundárias –

são apenas vias

e não a origem ou destino.

Não têm a vocação

dos caminhos grandes

como as estradas.

Pior são os passos

que nunca retornam

ou não nos visitam

e ficam marcados

no cimento fresco da memória.

 

 











 

 

 

 

 


quinta-feira, 20 de março de 2025

Pororoca


 


 

 

 

 

Os rios

como carneiros de água

caminham para o matadouro

salgado do mar.

 

Algumas vezes,

o bicho maior

espuma suas garras

e invade o ninho doce.

 

Há luto, revolto

e o que era manso

se revolta e luta.

 

A boca do mar

baba sua ferocidade

grande e humilha

a docilidade

em seu pasto marrom

de lãzinhas apascentadas.

 

Mas o pequeno

insurge-se contra a boca

monstruosa

que tudo agita,

domina e oprime

e, na luta desigual,

empurra o invasor

que recua

e se urina, borbulhante,

salgado

e entra em cólica

que é sua forma

de desconfiança.

 

Poderia ver a luta

do Bem e do Mal,

de David e Golias,

do capital e trabalho,

o sim e o não,

o dia e a noite,

se não fosse

o que em mim rumina.